Ismael Leite de Almeida Júnior

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Aracaju, SE, Brazil
Poeta, cantor, compositor, guitarrista, apaixonado por mundos e vida.

domingo, 10 de abril de 2011

Vivo desejando o silencio que nossos corpos provocam...


Penso em coisas tão distante quando a vejo...
Lembro de frases cortantes que lembra a vida...
Desejo tudo quanto posso desvendar de ti.
E quando imagino que aos prantos minha
Bela criatura vai guiando essa loucura
A frase bela que posso te mostrar está
A beira da loucura que penso afundar
E nas profundezas disso que imagino ser
O encontro com a poesia quer mais
É trazer daquela profundeza...

O sorriso mesmo em palavras tristes.
Consigo sonhar em beleza única
Transformadora, impulsionadora, tentadora,
Louca! Algo que deixa trêmulo minha grandeza.
E onde vejo que em ti sim, és o sumo do servo,
Do tudo! Tudo aquilo que imagino sendo o meu eu.
Mas todos os homens são tolos! Não vêem
Nas lágrimas à distância; no sonho o desprezo
E continua imaginando a solidão como um abandono.
Que loucura insana. Queria ter o amor ao meu lado agora
E sabe o que faria desse silêncio? O acompanhamento
Mais perfeito para celebrar paixão a qual choro,
A qual canto, a qual desejo, e mesmo sendo tolo

Vivo!!!

Vivo desejando o silêncio que nossos corpos provocam
Quando na aurora tudo vem se renovar...
Um novo dia, um novo mundo, um novo sopro,
Um novo medo, um novo pensamento...
Mas o mesmo amor... Você!
                                                         

Velho, velhice, e voce...

Qual verdade devo conservar para estrilar
O tipo de depressão os horríveis olhos
Que não temem o estrepito dos exórdios?
Faz presente o gemido de orgulho que sinto carregar.
           
Pelos ventos do fundo do mar...
Pelos sopros das pálpebras a chorar...
Pelos cacos de vidro nos olhos derramar...
Pelos poucos degraus a pendurar...

Este suave veneno despertado para dentro
Do meu bulbo ou do seu sofrimento.
Selo este amargo desejo cego.

Vejo a verdade com olhos cinzentos,
Diz a mim: as velhices desse corpo
São facas, correntes, que teu peito conserva.

(Ismael Júnior, 08/02/06).

Uma triste lembranca...

Eu sempre quis tê-la nas mãos.
Aberta, o coração ao vento, céptico,
Murmurando para nadar na dor do chasco.
Sua branca pele, feito neve ou paliação?

Veio o destino e nos trouxe ao acaso,
Fez da vida mais que simples devaneios
E levou para um longo e gélido passeio
Entre nuvens – suspensas no desvalioso.

Segui viagem feito cego, destemido!
Senti sussurros e gemidos, cânticos
Entristecidos, boca aberta, madrigal.

Destoante para o orvalho, eu, na noite exalo
Uma triste lembrança de tempos esquecidos.
Que da vida leva dor, saudade e desafios.

(Ismael Júnior, 07/12/2005).

Tudo tao real...

Para a liberdade atingir o homem
E se criar o espelho das almas,
Alcançando as paredes do desejo,
Amargando a solidão da alma.

Trazendo da noite, a vida;
Das trevas, o vigor;
Das sombras, a clareza
Para todo pecado e toda dor.

Parece-me que tudo se transformou,
Voltei a sonhar com anjos – talvez demônios -
Parei para pensar na dor
Da minha alma arrancada
Por uma simples palavra.

Da navalha, ao sangue;
Da queda, à dor;
Do sono, à morte;
Da morte, ao esquecimento.

(Ismael Júnior, 14/03/03).

Triste fim...

A terra sobre o mundo é o que vemos.
 O mundo é louco, pardo pela pele,
Negro como a noite, triste como eu.
Simples carne humana, fraca mente insana.

Mundo louco; mudo veste-se para seu fim.
Majestosa és a vida.
Por fiasco, és por um deus,
Sábio como eu.

Membro transtornado, vasto pelo amargo,
Cru pelo apelo.
Somos a ilusão, a febre da alma.

Somos a carne em teu pútrido estado.
Por que mentes?
Teus olhos não te dizem?

(Ismael Júnior, agosto 1998).

Tudo que nos versos passamos...

Apesar de sermos tão distantes,
A solidão consegue nos atrair,
Fazendo-se dizimar,
Tornando-se morrediço...

Tudo que nos versos passamos,
Para cada um, proclamássemos
A verdade do que há de vir.

Te amo tanto quanto as algas amam o mar;
Te vejo tanto quanto os meus olhos,
Por pura inocência, enxerga o luar.

E quando a lua cheia me deixa a pensar,
Não sei o porquê mas continuo a rezar
Por todas as noites da lua; esse belo olhar...

Venha fazer parte, não da minha vida,
Mas da eternidade da alma!Venha enxergar
A quão bela és. O olhar; o falar; o calar.

E tudo vire pedra, quando a tua linda poesia
O coração encantar!Assim poderemos a tudo tocar,
Sem esperar noite, dia, ou estação para ele brotar.

(Ismael Júnior, 19/06/08).

Sonhos opostos.

Quando a luz invade o ocasional
Transforma a nudez do espírito num longo caminho.
A entrada de uma passagem rodeada de inesperado,
Transborda de ânsia para o sonho invadir
Grande espaço vazio, oriundo e fantástico.

Não existe direção para as trevas; não existe
Pensamento que ultrapasse a meretriz das loucuras.
Imaginou-se algo doentio,
Nunca outrora observado
Por nenhuma criatura perpetuada neste universo.

Uma grandeza - que beira inferno e luz -
Nunca vista antes,
Ao menos vivida, por algum de nós.
Desenrola-se em opostos
E controvérsias dos nossos sonhos.

(Ismael Júnior, 1996).

Sofro, sinto, padeco, cego, morro.


A Lua cobre minha tristeza, e descobre minha alma.
Sofro, sinto, padeço, cego, morro.
Esconde o rosto por semanas e não vejo seu brilho.
Tem na mão o que de belo planto na escuridão.

Não deixarei esta grande lua me devorar.
Sinto nas noites o que meus olhos ainda hão de enxergar.
Um grito lírico que saliva irei gastar.
Seja por desejo, seja por delírio ao te encontrar.

Enterrar-me-ei nas noites sem ti; nas trevas,
Não poderei ir. Quero da tua lucidez degustar;
Da beleza, apreciar; e da distancia, delirar

Nos braços bravos seguros pelos cantos.
Mesmo sem acalanto, rezo para em meu pranto
Enxergar a luz que nas noites segue a me olhar.

(Ismael Júnior, 13/08/2005).

Sim, sou eu...

Surgindo daquele mundo nada pode ser tão singular
Quanto a passagem pelo esquecimento -
Desprezo voluntário.

A dor, congelada em seu peito,
Distingue aflições
Pelo ardor da nostalgia.
O sonho se transforma em pesadelo
E desfila pelo labirinto da solidão.

O medo que carrega, leva-o a
Buscar caminhos mal entendidos e
O segredo violado existente em seu peito -
Contorce todas as pedras da construção
Desse mundo acabado.

Se soubesse,
Não cairía nos braços da tristeza,
Viveria nas praias do esquecimento
Buscando a entrada para o castelo
De gelo, perdido em seu peito
No último dia do contentamento
Da verdadeira aflição corrente em seu corpo.

Talvez fosse singelo. Puro acaso.
Não sabe a diferença de ser ou não?
Sempre quis nuvens, alturas, lagos profundos
E mortos; agora, nada é tão morto
Quanto o seu próprio olhar.

(Ismael Júnior, 1998).

Sendo apenas a lembranca do abominavel escurecer...


Oh! Que triste esse coração meu.
Por motivo não sei; por natureza, talvez.
Vendo por uma amargura quase demolidora,
Sob pena de um demasiado fundo de desesperança.

Sendo apenas a lembrança do abominável escurecer,
Que envolve as amalgamas do pesar atrócito.
Do pensamento mórbido dissolvido no calor da lua,
Ou na frieza da escuridão. Tanta sordidez...

Vai! Vai batendo os passos a estalos abomináveis,
Mas como marca passo, arranca até a ferida,
Onde no seu movimento acelera a decadência do ser,
Simplesmente por natureza viva; morta; mortiz;

Atroz; sórdido; pelos tantos meios o coração não teria
Discernimento capaz de avassalar até mesmo
O sentimento de dor; por ser maior e demonstrar,

Mesmo na solidão, a unidade não ultrapassa
 A palidez da batida dolorosa que poderia passar
O corpo em que esse coração tenta todas as noites
Estourar os limites da batida que a dor possa carregar.

(Ismael Júnior, 21/06/08).

Tanto quanto louco posso ser quando a luz o olho abandona...

Sempre tive medo de ser! O que não diz o motivo de viver.
Vivo, pois sempre invento motivos, mas nem todos convencem o medo.
Sonho aos prantos e dores, é a melhor hora para se ter noção.
Caio no mundo feito pedra, na terra, sem movimento, sem melancolias,
Sombras e escuridão. Tão quanto velho seja este mundo
Tão mórbido e obscuro que comungo a existência desta fera.

Onde os olhos como esferas ofuscam a luz da inexistência
Quando o belo em trevas revela a única forma de alegria;
Que do olfato e da ousadia a luz do toque anuncia
Quanto belo posso ser quando a luz a tudo transforma;
Quanto belo posso ter quando a luz ao fim desloca;
Tanto quanto louco posso ser quando a luz o olho abandona.

Tanto quanto encantado posso ser quando a escuridão a mim demonstra
O belo passo abstrato da figura negra do acaso.
Afundando em sombras para ser pedaço do infinito.
Infinito este negro, que de trevas, beleza e esperança,
Sobrevivo para ser à sombra do belo vulto que levanta.

(Ismael Júnior, 18/10/2010).

Nao me falta a coragem e afundo na saudade...

Sei que ando triste, louco ou perdido.
Não sei o exato que em mim existe, mas sei
Que no vento profundo que faz abrir o longo sorriso,
Que existe a extremidade do sonho, do banquete.

E que sairá do meu próprio esforço, o sabor
Do vinho da liberdade, aquela mesma
Do coração sozinho. Que venha então o conhaque!
Não me falta coragem e afundo na saudade.

Não tenho lágrimas para lamentar.
Restam as palavras, cegas, doentias...
Próximo das críticas, e por incrível que existam
As minhas mãos na areia se degladiam

Com medo de morrer na terra fria,
Sonham com o amor que neles habitam.
Na areia vão somente os depreciadores
Da ansiedade de carne e do poder de rebeldia.

(Ismael Júnior, 13/08/05).

Se olhar para traz...

Para os grandes laços entranhados
Outrora devorados – dor e ódio –
Vazios pela ingenuidade.
Que da luz,
Silhuetas que nos levam à união
Do coração, da amplidão
Dentro das cadeias imaginárias.

Oh! Que loucura desafinada.

Um dia tão humana...
Com a fé nos braços acolhedores
De sépalas tão profundas,
De escamas tão brilhantes.
Animal, vegetal ... Vegetando.
Translúcidas mudanças escorregam
Pela garganta - mortas esperanças – fúteis, arrogantes.

E um dia chegaria a alegria a espera da devastação,
Afogam a mão em poder da obsessão.
Quero paz – velório silencioso de flores –
E hipocrisia – machado cortante de velas e sangue.
Sopro constante que apaga o calor da alma
Colonizando e espancando – o medo –
O dorso curto da criatura doce, livre.

 Seja talvez pela angústia
Que será forte – concreta e abominável.

Trouxeram-me de volta... O mundo vive,
Que mentira tão cristalina, onde meus ouvidos,
Como pétalas ao vento,
Sentindo...
Essa maestria dos sentimentos
Fazendo-me sofrer,
Nadar às cegas. E depois olhar para traz.
                                       
(Ismael Júnior, 26/03/05).

Se a minha falta pudesse ser em palavras...

Se a minha falta pudesse ser em palavras
A minha forte ira contra a falta de coragem
Muda no meu peito como bicho mudo
Devorador de carne do pútrido e do defunto,

Maltrataria o pensamento negro que habita
O meu corpo de pobre compaixão com a podre terra
Que morde sem perdão e grita o meu nome.

Oh, criatura eremita, o que da carne vomitas?
O meu ódio continua a esterelizar, escumungar.
A beleza que em teu locule incesto te condena

E mata as pequenas criaturas na tua fremência
Demasiada e inconseqüentemente mostrada
Na pele, na alma do teu corpo e no sêmen.

(Ismael Júnior, 28/07/05).

Sangue nos dentes...

Em teus gestos sempre meigos,
Usurpa do meu ego um forte apelo.
A cegueira invade, destrói o consolo,
E em teus olhos quero afagos.

A lua continua nos mostrando
Mesmo quebrando o silêncio,
A riqueza dos teus olhos inundados
No sopro do vento, da noite, entre devaneios.

A mordida da paixão em meu peito.
A mordida da saudade em meu medo.
A mordida da tristeza em meu pranto.

Parto para a loucura da ilusão
De poder contar com o coração
Que sofre na mordida da solidão.

(Ismael Júnior, 2004).

Redencao.

As luzes do infinito
Brilham em abundância,
Afastam-se do encontro
Das mais belas forças
Onde a fúria do criador
Visa uma só desgraça.

Somos o pedaço do paraíso
E sem ele nada acontece.

Longe, bem longe do esperado,
Existe um encontro de sangue,
Um rio de lágrimas e, no fundo,
Todos – mortos, afogados
Em seu próprio ódio,
Aclamam perdão
Ao sangue derramado.

Liberdade – tu que lidas
Com a inocência do corpo
E fazes jorrar sonhos
Capazes de transmitir repugnância,
Forjar a mais pura das essências
E acariciar a alma
Com um toque de temor.

Temor – tu que és obtido
Da ternura do ignorante
Ou da sutileza
Do mais tímido sentimento...

(Ismael júnior, 1996).

Queria eu estar na pele tua..

Queria eu estar na pele tua.
Mergulhar no sangue, sentir tuas curvas.
Provar teu prato, desviar-me das fissuras.
Mutuar com teus desejos, toda minha loucura.

Pactuar das veias verdadeiras provas
Dos anseios revoltosos de injúria...
Que sonhos tão abstratos e cheios de luxúrias!
Deixa o meu pranto soltar teu arco de ventura

Não mais na carne tua.
Sentirei a bela melodia
Que do meu ego se sabia, não agia...
Morreu no corredor, beijou tua brandura,

Desejou teu consolo, desviou na desventura.
Sempre esteve ao lado teu, uma pequena criatura:
De longe era rosa; no outono, ruptura;
Abria o coração e mostrava-se deusa nua.

Então desejei o desejo do pecado.
Mergulhei em teu gozo e entreguei-me
Ao teu prazer. Provei o inesperado
E explicável. E eu, vedado, velado.

(Ismael Júnior, 12/08/05).

Que morra tudo! Eu, meu jardim, meu desespero, minha dor.

Essa é a verdade que não consigo encarar!
Porque tantas dúvidas quando penso que o medo se foi?
As marafonas me perseguem, mesmo sem alento
Viajando pelos lábios que não conseguem movimento.

Soltando gritos que não sei de onde a calvária pode tirar.
A não ser do túmulo, já que o amor torna-me parte dela,
E mesmo enxergando o corpo estirado não consigo sentir
A terra fria sobre ele. Não consigo trazer você de volta,

E uma tormenta em desvairamento, um decair de tudo da cabeça.
Que cabeça? Esse pedaço do corpo já não pensa.
Que sofrimento!! E onde consigo fazer essas lembranças?
O que escolher? Dor ou sofrimento? Sofrimento ou dor?

O álcool será não a solidão, mas o medo do sofrimento.
E quando penso em ser forte o dia acaba com toda essa covardia;
Trazendo fantoches para mostrar que o nada é tudo.
Tudo aquilo que os fracos se emocionam.

Que morra tudo! Eu, meu jardim, meu desespero, minha dor.
Mas que reine o meu desejo solitário que com toda sua sabedoria
Trouxe-me as palavras para que pudesse morrer encantado.
Não com o meu amor, mas com a minha infantil imaginação.

(Ismael Júnior, 16/06/08).

Porque nao vejo a lua como vejo a ti...

Por que não vejo a lua como vejo a ti?
Será a sede, os teus olhos ou o teu sorriso?
Será a fome, o feitiço ou simplesmente um ser
Que das trevas, na lua, nas ruas, no sorriso...

Tinha um gosto amargo, suado, desgovernado.
Me arrastando para o foco do pecado, do devasso
Isolamento de um mundo, talvez, solitário.
Por que na lua não vejo o prazer?

Apenas tu, mais bela que ela,
Mais linda que a rainha das noites.
O mais triste dos açoites.
Queria eu ser nuvem, para em teu céu
Cruzar tua fronte de deusa do horizonte.

Quero lançar-me num mundo distante,
Beijar tua boca e arrastar-te para a fonte.
Obscura criatura que me revestes. E quem?
Quem pode conter esta fera? Parar?

Parem!
Pensar?

Por onde pararei para lembrar desta Abigail?
Por que te vestes na noite para me olhar?
E pensar em teus lábios, teus traços, teu sorriso,
Olhos e boca de brilho imenso.

E meus olhos no peito desejado
Da alma do meu compasso, olhos nos olhos
Do teu berço por mim ansiado.
E se eu morrer? A morte talvez me desse
O teu colo, os seios e o berço tão aclamados.

O sangue derramado não me faria um derrotado.
Apenas mais um sonho de uma louca mulher
De pensamentos e coragem por mim almejados.

Será tão pouco... a lua não verei por
Toda a noite, mas em teus braços quero
Ver a eternidade da fatalidade e do amor.
                
(Ismael Júnior, 20/07/05).

Perante o insulto ou diante da faca...

Quanto cego talvez seja eu,
Verme qualificado de desgraça
Perante o mau dizer das carcaças
Que nada tem a temer da terra.

E nada a lamentar da desgraça
Mesmo com pútrido ambiente
Não deixa de ser o mesmo canalha
Diante da morte ou da mordaça.

Perante o insulto ou diante da faca.
E mesmo perdido na morte
Não trago no coração a falta
De ódio, de vingança e de trapaça.

Onde posso tudo! Como no sonho
Que encarrega-me de dizer o que passa
Na tua vida, na minha lembrança
E na minha caminhada para a esperança
De algo triste que minha vida sempre afronta.

(Ismael Júnior, meados de 2008).

Para que a terra o enriqueca de lembrancas de desvelo...

Quão podre somos quando o amor à carne abandona.
O calor do corpo desaparece entre a suadeira
E toda aquela carne até então lisa, ríspida,
Transformasse na mais perfeita putrefação da vida.

A morte consome de forma absoluta tudo que desvirila
Sobre o monte da carniça que nosso cérebro sustenta.
Entre os bichos a comer aquela enorme ferida
Deixa apenas a carcaça, vazia, sem lembranças e marcas
Da trajana criatura do mundo dos entregados.

É uma visão tão avassaladora que os olhos choram.
Sobreviverei a aquela carniça, deixando no rosto dos outros
Uma impressão de nojo, mesmo vendo o tosco corpo seu
Em estado que tal bichos também devorarão, sem ódio
Ou vingança, aquela carne branca, cosmicida e sem alma,

Para que a terra o enriqueça de lembranças e desvelo
De tudo aquilo que pensam e para tudo aquilo que lutam
Imaginando não acreditar que o seu corpo um dia
Não estará por traz de toda a orgia que os bichos encaram
Aquela bela massa.

(Ismael júnior, 09/06/08).

A dor e os meus prantos para o mundo...

Meus planos são encantos da mão
Pesada na pele da selvagem mente repugnante.
Atalha o sofrimento de teu ombro maltratado.
Amordaça tua alma de tamanho absurdo.

Farei súplicas para o pesar de o meu pensar.
Mande sobre minha sombra o poder da desbravura,
Apunhala-me pelas costas, no lado do coração,
A fim de que os olhos não acompanhem esta ação.

E a mão não sinta a presença do teu corpo
Empoeirado e desveloso, protegido pelo atrocido
Colapso nervoso.  Tua boca seca de colosso,
Acorda meus sonhos enganosos, encerados;

Encenas a dança da morte para o corpo.
Aos poucos, acordo e trago
A dor e os meus prantos para o mundo.
E sobre as costelas – escadas dos meus sonhos,
Introduzes no coração teus encantos e volúpias,
Teus gemidos de injúrias e poderes de observação.

Observo o fruto gerado da tua árvore
Cheia de galhos, mortes, espinhos e ninhos
Aveludados, empalidecidos – bizarros berços de tristeza.

Meus planos não mais encantam. São pedras
Perdidas nas profundezas da minha lembrança,
Substituída pelo mórbido pensamento de desilusão:

Inocência e culpa, do mundo que imagino - sem vida,
Sem traços, opaco. E a cidade onde cresci
Agora me veste, enfraquece-me de dor e culpa.

(Ismael Júnior, 02/08/05).

Olhos vermelhos.


Essa doce corrente de chamas –
Olhos vermelhos na minha brandura.
Desliza entre becos côncavos,
Devora-me da carne para dentro.

Nestes pés carbonizados,
Livres do cansaço; no retardo
Da batida do coração inspirado
Pelo fogo do teu corpo desvairado.

Chegaram as cinzas, lindas,
Do meu corpo entre pedaços,
Mais negros que os gatos

Perdidos nos telhados,
Vendo as chamas rompendo -
O meu corpo e o teu pecado.

(Ismael Júnior, 14/06/05).

Olhos para o infinito.

Ele sempre esteve lá,
Aquele espaço vivido
Por aqueles que tanto amavam
E brotou da mais bela
Das grandezas desse mundo.

Soube passar
Por todas essas mudanças.

Hoje ele sabe; no entanto,
Afundou em seu próprio desejo.
Subiu as escadas,
Olhou todo o horizonte,
Presenciou a grandeza do universo.

Aproximou-se. E, à janela,
Desejou muito mais
Que tinha em vista.
Hoje, possui a eterna vida.

(Ismael Júnior, 1996).

Obscuramente contente.


Esse grito tão profundo,
Esse medo tão intenso,
Esse gesto tão ardente,
Esses olhos tão ausentes...

Essa dor contundente,
Essa gente tão contente.
Meu olhar tão distante,
Meu prazer tão delinqüente...

Minha vida derramante,
Meu pensar tão pungente.
Essa dor negligente,
Meu querer obssecante...

Meu olhar onipotente.
Esse traste de gente,
Essa suspensão da mente.
O meu verde quase demente...

Quero o meu dever de criatura,
O meu tédio de ignorante,
A minha dor descontente,
A minha música parcialmente

Tocada em lábios aparentes
De versos submissos,
Dos meus pêlos suspirantes.

Mais uma vez


A minha música
Contempla o que
Obscuramente
Deixa-me contente.

(Ismael Júnior, 21/04/05)

O sorriso e o medo.

Se do sangue a gente vive,
Da dor caminhamos por nossos sentimentos.
Quando o sorriso provoca luz
Traz a meus olhos o abandono do meu sonho.

A tristeza que abala sua reluzência
Cria no mundo o medo, o sofrimento.
Não vejo nuvens
No sonho que dilata o meu ser.

Da estrada que vestes
Assombra minha existência.
Do triste mundo que vives
Arrasta-me pela ventania – sopros cortantes
Que dominam o meu medo.

Não conheço a morte, não te conheço.
 Que sentimento eu teria
Se deprimíssemos do mesmo pesadelo?

(Ismael Júnior, 1998).

O morbido e triste eu...

Como posso dizer ao amor
O sopro de dor que no coração carrego?
Moribundo, arrastado, nesse corpo devorador.
Marchando para a morte – o aconchego.

Não quero mais em teus olhos ver jorrar
Lágrimas que te feri; sonhos a te quebrar.
Noites acesas; o teu corpo cansar.
Enxergar algo ruim vindo me derrotar.

Aprendi quanto o teu beijo desejo.
Quanto o teu cheiro me enfeitiça.
Quanto o meu peito clama, Rainha!

Perdoe-me pelos erros, tão embriagados.
Perdoe-me por não dizer o que há em meu coração.
Perdoe-me por não ter expressado, de certo, a minha paixão.

(Ismael Júnior, 08/11/2005).

O meu amor...

Lá está: Ela, que paira no ar,
Como um núcleo de tristeza,
Visita o nada para não deixar lágrimas
Junto a seu rastro.

Murmura ao ouvido do mundo,
Pois é dele todo o seu ardor,
E onde se esconde toda aquela beleza
Inconfundível.

Nada entende sobre vida,
Vive apenas a quem lhe imagina
E passeia ao seu lado

Mostrando-lhe a noite,
Sonhando com o amanhã
E despedindo-se do dia.

(Ismael Júnior, 2006).

O medo...


A voz cala-se, o tempo pára,
A mão gela, a terra vira treva.
A dor cresce e revela...
A lembrança varre a selva.

Mais e mais vem ao consumo,

Traz a mim o doce lírio;
Deixa a paz, deixa o espinho.
Que doença! Mata com demência...

Mata o homem, mata a essência
Mais selvagem que atormenta
O suor da face fria.

Sem pensar, o medo com seu belo sopro,
Chega como um escárnio
Deixando-me transtornado.

(Ismael Júnior, 22/06/05).

O inicio do fim.

E o meu mundo começa
Em minha morte, no pior momento,
Em meus pesadelos, no jardim...
Com o funeral e o vinho.

Com o pensamento... no sétimo dia,
O maior dos alegres, dos revólveres.
Da arma que da pele exala
O doce sabor da pétala.

Traz do chão, a carcaça,
Dos bichos, a fumaça;
E dos ares, a desgraça.

Então volto à vida,
Trago o ódio, a dor, a ferida
Que em mim não cicatriza.

(Ismael Júnior, 20/07/05).

A procura da poesia lisérgica.

E agora falo para as trevas E para a luz. Quanto da minh’alma Figurará no fogo que arde E no brilho dessa luz opaca? Meus anseios e minhas l...