Ismael Leite de Almeida Júnior

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Aracaju, SE, Brazil
Poeta, cantor, compositor, guitarrista, apaixonado por mundos e vida.

domingo, 10 de abril de 2011

O espinho e a flor.


Por que você me atormenta tanto?
Porque não vem de vez em quando?
Porque só no sono vejo todo o encanto?
Porque insiste, mesmo no meu desvelo
Comer parte do meu luto, do meu ócio?

Sempre será o mesmo drama? Ou na cama,
Louco por prazer, louco por querer
Beijar o espinho de minha florzinha,
Que continua a inundar meu espírito
De selva, de vinho, de tinto, de veneno.
Por que não me deixa viver com amor?

Por que insiste em querer sem pudor
Roer a carne pútrida da carniça do meu ego?
Por que insiste tanto em devorar meu fígado?
Por que não me deixa morrer nos beijos da malícia?
Por que sofre quando o que mais quero é viver?

Por que não vê que a morte em mim é você?
Porque tenho que deixa-la em casa para não sofrer?
Por que em tudo que falo não consigo trazer você?
Por que por mais que tente me afastar de você
A cama fria, os dentes secos, os lábios mortos
A mente fria e a pele roxa lembram-me você?

(Ismael Júnior, 2000).

Noites tristes estas sem voce...

Parece-me tão estranho o amor das noites.
Das noites cegas e sozinhas, principiando a lembrança.
Que sonho triste, esse mundo de pensamentos,
Esse choro contente, essa cara diferente.

Que lágrima vagabunda, morta às vésperas do espanto.
Que selva profunda de cacos, laços, prantos.
Será doce na terça, cinza na quarta, acabado no mármore,
Nas flores, nas dores. Oh! Esse escuro.

Quero velas para o salto, palmas para o pranto,
Sorte no cansaço, flores no túmulo,
Sede na derrota. Fome - que absurdo!

Salvem-me do mundo, tragam-me ao fundo,
Deixem o meu conto, levem-me o defunto,
Digam-me que sou louco, matem-me no luto.

(Ismael Júnior, 21/04/05).

Dos sonhos que pretendo viver.

Nem sempre quando a mente nos confunde
O corpo, mesmo sem alento, observa a loucura.
Sendo mesmo apenas mais uma pequena porção
Da sublevação do esconderijo onde brota
O alimento para que possa viver no relento.

E quero sempre lamentar o sol poente em que,
Depois, nas trevas, a vida se tornou doente.
Assim como sinto agora, longe da realidade,
Amortiçado, que o peito carrega por todos os lados,
Trazendo desse pequeno eu, um grande imaginário.

De quê? Pra quê? Onde? Por onde?
Tudo isso ilude a vida; ilude a esperança,
E mesmo caminhando para tentar compreender
Morro no colo do útero, antes mesmo da fecundação;

Como uma criatura que não percebeu o seu mundo,
Mas que pelo menos de sonhos aqueceu a idéia
De uma vida que poderia ter crescido em volta
Daquilo onde a vida é um pedaço pequeno
Dos sonhos que pretendo viver.

(Ismael Júnior, 18/06/08).

Na noite, ando por ansiedade...


Sem veia, a pobre desgraça sem face,
Sacode as vestes rasgadas por seu colo.
Finge cantar a vida e o desprezo -
Fantasias acordadas para o demônio.

O socorro, que fecha as calçadas da rua,
Absorve o ódio dos pés inchados à beira
Do asfalto, grita por consolo ao doente
Corpo, que carrego por todos os lados.

Seco o suor. Ferido, vejo sem piedade
A poeira, que o luar conduz à depressão -
Praguejada na lente do meu peito.

Na noite, ando por ansiedade.
Levo o corpo com as pequenas rosas,
E acredito ainda estarem mortas.

(Ismael Júnior, 13/09/2005).

Lembranca de um sonho infeliz...

Quando o ódio começou a dominar
A revolta passou a ser parte do encantamento,
E virou tragédia para fora do deserto.
Como sendo o caminho longo a me maltratar.
           
Tateou no orvalho feito bruma a se espalhar.
Beijou o olho feito vento sobre a noite a me banhar.
Queimou o étimo, esse pequeno pedaço do meu mundo.
Farejou o cheiro do brejo e afundou-me no profundo.

Esse, sem fim, clarão da noite.
Esse, tão solitário, mundo infinito.
Esse, triste ermo, salgado das lágrimas.

Meu tétrico, sético e amargo mundo.
Quem de nós enxerga esse vazio turvo?
Sou eu no sonho ou você no meu tudo?

(Ismael Júnior, 03/09/05).

Lembrancas suas...

Na infância do meu passado cego
Vestiu-se toda presença do ventre renegado.
Sempre observado pelo desespero que me guia.
Vi-me coberto por manto negro,
Com sombras pálidas, minha alma sufocada.

Lembra-me do fato em que confundi
O triste pelo alegre - vivido de forma desordenada
E convulsiva da intolerância
Das lágrimas.

Estas lembravam um museu;
Onde cada uma derramada
Mostrava-me mais e mais
Os sonhos já vividos e mal lembrados.

Esqueço-me da poesia
A fim de lembrar-me dos pecados,
Do verde-negro,
Do negro-vermelho,
Do triste caminho e de você.

(Ismael Júnior, 2005).

Lacos escondidos.

Joguei para o alto a lembrança do amanhã.
Fiz-me de vela para acender o passado.
Abracei as estrelas como se mordesse cacto.
Feri minh’alma com um punhado de areia.

Sabendo que, do grande rio que parei na beira,
Apenas lágrimas eu pescaria.
Apenas de escuridão, meus olhos se encheriam.
Toda a parte que havia destruído, voltada para o espaço.

Terra de sombras sem luz -

Assim também, os meus pés e o meu desejo
Levando a todo o infinito perturbado
A cadeia de desejos

Pelo qual o homem sempre lembrará.
Mesmo no medo,
Na fraqueza ou no sonho encantador.

(Ismael Júnior , 2005).

A procura da poesia lisérgica.

E agora falo para as trevas E para a luz. Quanto da minh’alma Figurará no fogo que arde E no brilho dessa luz opaca? Meus anseios e minhas l...