Por que você me atormenta tanto?
Porque não vem de vez em quando?
Porque só no sono vejo todo o encanto?
Porque insiste, mesmo no meu desvelo
Comer parte do meu luto, do meu ócio?
Sempre será o mesmo drama? Ou na cama,
Louco por prazer, louco por querer
Beijar o espinho de minha florzinha,
Que continua a inundar meu espírito
De selva, de vinho, de tinto, de veneno.
Por que não me deixa viver com amor?
Por que insiste em querer sem pudor
Roer a carne pútrida da carniça do meu ego?
Por que insiste tanto em devorar meu fígado?
Por que não me deixa morrer nos beijos da malícia?
Por que sofre quando o que mais quero é viver?
Por que não vê que a morte em mim é você?
Porque tenho que deixa-la em casa para não sofrer?
Por que em tudo que falo não consigo trazer você?
Por que por mais que tente me afastar de você
A cama fria, os dentes secos, os lábios mortos
A mente fria e a pele roxa lembram-me você?
(Ismael Júnior, 2000).