Terei sono diante da morte...
Terei medo da dor demente...
Terei o vinho como meu consolo,
E a voz do meu amor como sopro
De saudade, de maldade sobre o sono.
De desdém com o sopro, endemoniado,
Feito cão ao ódio dominado, querendo
Morder a carne como o esfomeado.
Devoraria a vida por querer ser rei.
Morderia o seio feito brumas, eu sei.
Mas não quero a vida. Que adorno...
Que sufoco. Sou mortiço, sou soprano.
E nos seus ouvidos solto o canto
Das verozes aventuras desse coração,
Duro feito santo, morto à danação...
E mais cedo que o entardecer, o pranto...
Há mais cegueira que carniça – carcaça,
Há mais fome, mais desgraça - descrença.
Há mais ódio que mentiras. E na carência
Há tanta briga, feitiço, desgraça e ignorância
Nessa terra santa de tanta abominância
Faz comer da nossa destruição e extravagância.
A sede de maldade, solta na loucura da droga,
Da cachaça, na conversa engraçada do vizinho.
Mais um morto que à sua calçada
Vomita sua longa farsa, de perdido,
De bonito compasso, de coração desenhado
Feito choro de criança, feito sentimento violado.
Pela dor da sua palavra, antes dita por desgraça
Agora agita a mordaça, o paiol e a macabra
Criatura, deturpada, desvairada, obrigada à dança,
Ao moribundo canto. Balanço da sua última escultura.
Sendo assim, vou matar essa criatura sedentária,
Com seu punho de coragem, derramando o seu sangue
Nessa minha desgraça, arrastando-a solitária
Para a sepultura, o escuro, os escombros dessa muralha.
E que chorem os homens, os esfomeados.
Os pobres, que pelo asfalto, não provam o meu encanto.
Doce vida de um pequeno depressivo, odioso, desconfortado
No obscuro teto das estrelas, por todos esquecidos e humilhados.
(Ismael Júnior, 24/07/05).
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